quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

1º Capítulo de Os contos de Beedle, o bardo!

Continuação...

Comentários de Alvo Dumbledore sobre "O bruxo e o caldeirão saltitante".

Um velho bruxo generoso resolve dar uma lição ao filho insensível, apresentando-lhe uma amostra do sofrimento dos trouxas locais. Desperta assim a consciência do jovem mago, que concorda em usar sua magia em benefício dos vizinhos não-mágicos. A primeira vista, uma fábula simples e comovente, ao crer nisso, a pessoa se revelaria uma pobre inocente. Uma história pró-trouxas, retratando um pai que ama os trouxas e é superior em magia a um filho que os detesta? É no mínimo surpreendente que qualquer cópia da versão original desse conto tenha sobrevivido às chamas a que frequentemente foi lançada.
Beedle estava fora de sintonia com seu tempo ao pregar uma mensagem de amor fraternal aos trouxas.
No início do século XV, a perseguição de bruxos se intensificava por toda a Europa. Muitos na comunidade mágica achavam, com toda a razão, que se oferecer para lançar um feitiço no porco doente do vizinho trouxa equivalia a se oferecer para buscar lenha para sua pira (1). "Que os trouxas se arranjem sozinhos!", bradavam os bruxos ao mesmo tempo em que se afastavam cada vez mais dos seus irmãos não-mágicos, um movimento que culminou no Código Internacional de Sigilo em Magia, em 1689, data em que eles entraram por livre e espontânea vontade na clandestinidade.
(1) É verdade que os bruxos e bruxas legítimos tinham razoável experiência em escapar da fogueira, do cepo e da forca (ver meus comentários sobre Lisette de Lapin nas notas sobre "Babbitry, a Coelha, e seu Toco Gargalhante"). Contudo, ocorreram de fato numerosas mortes: Sir Nicholas de Mimsy-Porpington (em vida, um bruxo na corte real e, na morte, o fantasma da Torre da Grifinória) revê sua varinha confiscada antes de ser trancado em uma masmorra, e assim ficou impedido de usar magia para fugir à sua execução; e as famílias bruxas eram particularmente sujeitas a perder membros mais jovens, cuja inabilidade para controlar seus poderes mágicos os tornava conspícuos e vulneráveis aos caçadores de bruxos.

Contudo, sendo as crianças como são, o grotesco caldeirão saltitante cativou sua imaginação. A solução foi eliminar a moral pró-trouxa, mas preservar o caldeirão verruguento, e, já na metade do século XVI, uma nova versão do conto circulava amplamente entre as famílias bruxas. Na história revista, o caldeirão saltitante protege um inocente bruxo dos seus vizinhos armados de archotes, afugentando-os de sua cabana, capturando-os e engolindo-os inteiros. No final da história, quando a panela já consumiu a maioria dos vizinhos, o bruxo obtém, dos poucos aldeões que restaram, a promessa de que o deixarão praticar sua magia em paz. Em troca, ele instrui a panela a devolver as vítimas, que são devidamente arrotadas de suas profundezas, ligeiramente estropiadas. Até hoje, algumas crianças bruxas ouvem apenas esta versão revista contada por seus pais (em geral antitrouxas), e a original, se e quando a lêem, é uma grande surpresa.
Conforme sugeri anteriormente, no entanto, o sentimento pró-trouxa não foi a única razão pela qual "O bruxo e o caldeirão saltitante" atraiu indignação.

À medida que a caça aos bruxos se encarniçava, as famílias bruxas começaram a levar vidas duplas, usando Feitiços de Ocultação para proteger a si mesmas. Por volta do século XVII, qualquer bruxo, homem ou mulher, que confraternizasse com trouxas se tornava suspeito, e até marginalizado em sua própria comunidade. Entre os muitos insultos lançados contra os pró-trouxas (os sugestivos epítetos de "chafurdeiro", "lambe-bosta" e "baba-ralé" datam desse período), havia a acusação de praticarem uma magia ineficaz ou inferior.

Bruxos influentes da época, como Bruto Malfoy, editor de Feitiçaria Aguerrida, um periódico anti-trouxa, perpetuou o estereótipo de que um bruxo amante de trouxas era tão mágico quanto um bruxo abortado (2). Em 1675, Bruto escreveu:
(2) [O bruxo abortado ou aborto é o filho de pais bruxos que não possui poderes mágicos. Tal ocorrência é rara. Os bruxos e bruxas filhos de pais trouxas são muito mais comuns. JKR]

Isto podemos afirmar com segurança: qualquer bruxo que demonstre apreciar a sociedade dos trouxas tem uma fraca inteligência e uma mágica tão débil e digna de pena que ele só pode se sentir superior quando se cerca de porqueiros trouxas.
Nada é um sinal mais infalível de mágica ineficaz do que a fraqueza para conviver com não-mágicos.
Este preconceito foi gradualmente se extinguindo em face da avassaladora evidência de que alguns dos bruxos (3) mais brilhantes do mundo foram, para usar o termo comum, "amantes dos trouxas".
(3) Como eu próprio.
A objeção final a "O bruxo e o caldeirão saltitante" ainda hoje permanece viva em certos setores. Beatrix Bloxam (1794-1910), autora do abominável Os contos do chapéu-de-sapo, foi, talvez, quem melhor resumiu a questão. A sra. Bloxam acreditava que Os contos de Beedle, o Bardo prejudicavam as crianças por sua
"mórbida preocupação com assuntos horrendos como morte, doença, derramamento de sangue, magia perversa, personagens perniciosos, e efusões e erupções corporais dos tipos mais repugnantes".

Um comentário:

  1. Muito legal seu site,mas acho que deveriam divulga-lo mais.

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